Monday, June 19, 2006

Futebol Cordial ou De como a Globo não vai nos convencer de que a Seleção não tá jogando nada.

Copa do Mundo; redes de televisão estrangeiras transmitem os jogos para o Brasil. A telvisão brasileira só compra os direitos de transmissão.
Nós, acostumados com o sistema Globo-Galvão de posicionamento de câmeras, estamos tendo novamente a experiência da apresentação de um jogo de futebol numa forma diferente. As transmissões Globo-Galvão, que se esforçam por acompanhar a nuca dos jogadores, têm uma narrativa visual que focaliza apenas o indívíduo. O trabalho coletivo desaparece, sobram os craques, e os perna-de-pau. Os lances geniais e os erros isolados. Fica incompreensível a função do técnico, que aqui se resume a colocar este ou aquele jogador, que neste momento é mais genial que aquele outro. O Bom técnico é aquele que sabe qual jogador está melhor em dado momento, já que talento no futebol é efêmero, experiência só conta se for a do Ronaldo Fofômeno.
A forma de apresentar os jogos na atual Copa tem privilegiado a presença de vários jogadores na tela ao mesmo tempo. A câmera acompanha o jogo tentando, ás vezes, englobar o campo inteiro, ou em outras, pelo menos a intermediária inteira. Isso permite por um lado entender melhor o esquema tático dos times. Por outro, ter uma dimensão de trabalho de grupo dos jogadores. É uma narrativa imagética que valoriza o futebol pelo que ele tem de coletivo, de esforço coordenado. Valoriza a apreciação do trabalho do técnico que monta o time pensando no todo orgânico a partir, é claro, dos talentos que tem disponível - e não como o Parreira, que tem um esquema a priori e encaixa quem cabe na sua abstração. Não temos visto tanto o close de jogadores escarrando no campo, como é costume no campeonato brasileiro. Em compensação, podemos apreciar a antecipação de um lançamento, porque as câmeras mostraram o lateral que correu para pegar a bola; não parece-nos mais sorte ou habilidade individual, o que vemos são times completos em campo. Pode ser um paralelismo redutor, mas só o futebol alemão, neuroticamente sistemático e disciplinado poderia resultar num sistema de telvisionamento de jogos assim. E talvez, sendo novamente reducionista, o sistema Globo-galvão só poderia ser a expressão televisionada do nosso Futebol Cordial.